Ele e Ela
segunda-feira, maio 18, 2015
Oi, você está acompanhando seu irmão né? (Um tempo de silêncio dela,
para digerir a pergunta, não muito tempo.)
Sim, olá.
Não a julguem como fria por favor, acontece que em um hospital o que
nunca se imagina aconteceu, alguém a tirou do tédio com uma conversa bem
calculada. Ela, cabelos ondulados arrumados pelo tempo, uma calça não skinny,
havaianas, e um cardigan que escondia a blusa de corrida, naquele dia ela só
queria ter ido correr, mas infelizmente seu irmão de um aninho precisou de um
hospital, lá foi ela, com a chave na ignição, sem esperanças de um dia legal,
estava enganada.
Ele, baixo como um adolescente, falava com convicção, e desde já se
esquecia sua altura, bermuda, blusa de frio e uma barba pra fazer, mãos nos
bolsos, poucas articulações, poucas palavras, mas boas palavras.
E o assunto continuava, é difícil essa coisa de assunto, quando você
está na escola, os assuntos são da escola, quando você vai a Igreja, o assunto
é a fé, e no hospital o que poderia ser? Mas ele deixou aquilo super divertido,
conseguiu até tirá-la daquele lugar por um tempo, suas palavras a levaram pra
vários lugares que ela não se lembrava mais, seus sonhos naquele dia foram
voltando a memória, e a vontade de ser jornalista bateu novamente a porta dela.
Quanto a ele, não sei dizer se ela o fez bem, volta e meia ela esboçava uma
tentativa ou outra de não parecer seca ou mesmo fria, e ele parecia notar, o
quanto era difícil, pra ela conversar com um desconhecido tantas coisas sobre
sua vida, mas a deixava tranquila e o assunto fluia.
Um médico chama o nome de seu irmão e em um piscar de olhos ela volta ao
estado preocupado, atencioso, vai até o médico, responde a pergunta, e ao
voltar ao lugar de antes, olha pra ele, que finge não olha-la, mas pelo reflexo
do vidro ela ja conseguira notar a atenção dele em seus passos, não foram
muitos, mas o bastante pra uma dúvida, o que ele pensou?
O assunto prossegue, a mãe do rapaz
passa, bate em seus ombros e pergunta se está tudo bem, ela diz, mãe é
sempre mãe né, admirando o carinho que os dois pareciam ter um pelo outro, ele
concorda com um sorriso, totalmente distoante de uma pessoa que procurava
atendimento em um hospital abarrotado de pessoas doentes, aliás, rapaz
totalmente distoante de todos os outros, que na maioria, ja eram pais.
Pouco depois, a mãe dela aparece, com o bebê nos braços, parecia estar
melhor, com uma breve despedida os dois trocam o tchau e apertam as mãos, ela
diz tchau e sai auxiliando sua mãe, com um sensação de que devia ter dito o
nome dele, pra mostrar que se importava, ele com um asceno de longe diz tchau e
o nome dela, droga, ela se sente culpada, deveria ter falado o nome dele... E
num misto de culpa e esperança ela provavelmente pensa, ainda nos encontraremos
por aí, D.
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